No século XIX, eu era uma menina que usava meias rosas até o joelho e saia curta também na altura dos joelhos. Apreciava os cavalos que passavam na rua debruçada na minha janela - o que deixava B. bastante irritado por pensar que eu apreciava, na verdade, os dandys montados em seus cavalos. Mal pensava B. que eu não dava a mínima aos dandys.
Toda semana meu pai me levaria ao Largo de São Francisco para apreciar as carruagens ali enfileiradas, sobretudo seus cavalos. Depois iríamos ao livreiro escolher um novo livro para mim. À caminho de algum café para fecharmos nosso dia, me divertiria ao ver as mulheres a desfilar com seus tique-tiques afrancesados.
À noite cozeria minhas rendas e me dedicaria aos meus bons livros até meus olhos arderem de sono. Teria sonhos incríveis - subiria o Corcovado pelo ar com B. até que, ultrapassadas as nuvens, eu pisaria nos atros, distraída, à espera de um ato de amor - todas as noites.
Não sei ainda o que eu seria em pleno século XVI, mas no século XIX eu seria, enfim, Maria Capitolina de Pádua, Capitu.
